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Workshop

Como uma única família de um lado a outro do mar

 
18 junho 2021   |   , ,
 
Por Giovanna Pieroni

O compromisso da Lorenza e da sua comunidade na região de Trento (Itália) em apoiar os projetos da onlus[1] Azione per Famiglie Nuove não se detém, apesar da pandemia, e beneficia o Líbano e a Síria. A iniciativa mais recente é a colheita de flores de sabugueiro.

Lorenza Coraiola é enfermeira aposentada. Ela diz que é tímida, mas me parece um vulcão em desenvoltura e generosidade. Envolvida no diálogo inter-religioso, sua paixão é viver pelos outros, especialmente pelos mais necessitados. Estejam eles perto ou longe.

«Na nossa região, em Rovereto – ela conta –, há pessoas de origem árabe. Morando perto dessas famílias, percebi as dificuldades que elas encontram todos os dias, por não ter domínio da língua italiana. Eu as ajudo, por exemplo, a marcar um exame médico especializado e a ler os resultados online, a matricular os filhos na escola, a cuidar das crianças quando há necessidade, se as avós e as tias ficaram nos países de origem… As várias pessoas com as quais estou em contato estão contentes em poder ajudar os necessitados, assim compartilhamos as necessidades de todos. Estou fazendo esta experiência, que Deus intervém na vida de cada um, dando uma resposta por meio da proximidade dos irmãos».

Síria e Líbano estão no seu coração. Como nasceu esse amor?

«Nasceu com o Sostegno a Distanza (SAD) de AFN (Suporte à Distância), que comecei há muitos anos: em 1990. Tinha lido sobre o lançamento do projeto no Líbano na revista Città Nuova (edição italiana da revista Cidade Nova). As consequências da guerra que começou no final dos anos 1970 foram terríveis. Era preciso apoiar e incentivar a educação das crianças para que não saíssem do país e ajudassem na reconstrução do Líbano. Senti que eu podia ajudar nesse projeto, envolvendo também meus colegas de trabalho. Dei um suporte à distância a um menino durante seu crescimento. Hoje Johny tem 40 anos e trabalha em Dubai. Desde 2008, transformei o seu SAD em apoio ao projeto “Centro Médico Social Beirut”, que levo adiante ainda hoje.»

De que forma você se sente parte dessa família?

«Uma coisa que realmente preciso elogiar é que, ao longo dos anos, sempre houve o compromisso de enviar informações atualizadas. Falavam da situação precária, da desconfiança, do desespero do povo e da contribuição dos apoiadores que chegava como um bálsamo para tantas feridas. Era uma corrente de amor que ia e voltava: e eu sentia que isso era muito importante. Nas comunicações dava para perceber a atenção, a preocupação em fazer com que os doadores se sentissem protagonistas. É como ser uma única família de um lado a outro do mar. Sentir que fazemos parte daquilo que eles estão vivendo ali, a dor e a esperança, a precariedade, mas também a alegria das crianças que a equipe do Centro cuida, expressão da força da vida que segue adiante. Poder constatar que a esperança renasce também por meio do SAD de pessoas, que somos uma rede de amor.»

E a Síria?

«A Síria também está no meu coração. Acompanhamos com alguns amigos da região de Trento os acontecimentos do povo sírio nos sites da AFN e da AMU. Estávamos nos perguntando o que poderíamos fazer para ajudar concretamente nesta situação realmente dramática. Há alguns anos organizávamos jantares, que não só nos permitiam arrecadar fundos para os projetos, mas também eram uma oportunidade de nos reunirmos e envolvermos cristãos e muçulmanos. Lembro-me de algumas senhoras árabes que contribuíram preparando bandejas com os doces típicos de seu país. Comecei a dialogar com elas e a me aproximar do sofrimento dessa comunidade de muçulmanos sírios. Em seguida, aderimos à coleta de assinaturas para suspender o embargo, sentindo uma dor muito grande porque a iniciativa não atingiu o objetivo desejado. Ultimamente, foi publicada no site da AFN uma carta de Robert Chilaud (representante do projeto na Síria), que veio a Trento há alguns meses e com quem tínhamos tido um encontro pelo zoom anteriormente, sentindo-o assim muito perto…».

E as novas informações do Robert a impulsionaram a se tornar ainda promotora de solidariedade…

«Li a carta do Robert, e ali ele dizia que as pessoas estão perdendo a esperança, a força, mas ele deu também um exemplo de um momento em que a Providência tinha trazido conforto e restaurado a coragem de uma pessoa. Imediatamente fiz uma doação pessoal e então pensei em compartilhar essa necessidade da Síria com a comunidade de Rovereto: temos um fundo comum que usamos para apoiar algumas pessoas pobres e para pagar o custo do uso das salas para as nossas reuniões e encontros. Porém, há mais de um ano não podemos nos reunir, então havia um valor remanescente. Todos na comunidade concordaram em enviar essa ajuda para apoiar o programa de emergência da AMU e AFN na Síria. Cada um de nós tem perto alguém que passa necessidade, mas não podemos esquecer os que estão sofrendo, mesmo estando longe de nós».

Foi possível organizar iniciativas de solidariedade mesmo com a pandemia?

“Não pudemos mais preparar os jantares nestes dois anos, mas no verão passado um bom grupo de famílias se reuniu em Val di Non pelo quarto ano consecutivo para a operação “Suco de maçã solidário”, graças ao apoio do “Consórcio Melinda”, que doou maçãs para a produção de ótimos sucos, que depois foram vendidos para apoiar projetos na Síria. Agora era urgente pensar em outra coisa. Assim, tivemos a ideia de preparar e oferecer aos nossos conhecidos xarope de sabugueiro, uma bebida refrescante muito apreciada na região de Trento durante o verão. Uma empresa local, ao saber que se tratava de um trabalho solidário, decidiu fazer esse trabalho gratuitamente. Nós pagamos os frascos e nos equipamos para colher as flores desta planta que cresce espontaneamente ao longo do rio Ádige e no campo. Utilizamos também algumas varas que têm uma tesoura fixada na ponta, assim pudemos colher as flores mais altas e mais abertas. A empresa nos tinha pedido pelo menos 10 kg de flores para a produção, mas eu não teria apostado nem mesmo um café que teríamos conseguido recolher essa quantidade, pois a floração estava atrasada. Quando pesamos os sacos de papel nos quais as colocamos, eram 32 kg no total! Quando a floração das matas de menor altitude também estiver completa, faremos outra colheita. Cada um de nós irá promover a venda do xarope de sabugueiro entre seus conhecidos, visto que neste momento ainda não podemos realizar jantares; e o dinheiro arrecadado será destinado à emergência na Síria».

[1] O.N.L.U.S.: sigla italiana para designar Organizações não Lucrativas de Utilidade Social.


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