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Emergência ucrânia – Um ano de guerra

 
4 abril 2023   |   , ,
 

Mira Milavec, focolarina e operadora da Caritas Spes Ucrânia, com a qual a Coordenação de Emergência do Movimento dos Focolares colabora, coordena a ajuda humanitária nesse país desde a eclosão da guerra. Um ano após o início da guerra, nós a entrevistamos.

Mira, podemos fazer um balanço deste primeiro ano de guerra, como vocês estão, como está a situação ali?

É um ano, mas parece uma eternidade. As pessoas na Ucrânia, por um lado, têm muita esperança.  “Vivemos para a vitória, que virá em breve”, costumam dizer.  Por outro lado, vejo também pessoas cansadas dessa situação.

No Oeste, onde estou, não há risco de vida como no Leste: não há sirenes, mas as pessoas   têm seus parentes no front. Quando falo com elas, percebo que é uma situação bastante difícil psicologicamente. O marido está lá, e não dá para imaginar a vida sem ele. Temos que refletir sobre as consequências e sobre a forma de sustentar essas pessoas que estão sofrendo tanto.

Quais são as suas impressões em relação a este ano?

Uma dor muito grande, porque não vejo qualquer esperança de que essa paz realmente chegue, que essa guerra termine. A impressão é que estamos sempre em perigo e não há um lugar seguro. Mas de alguma forma precisamos levar uma vida normal, tanto quanto possível. O que realmente dá esperança é a oração. É sentir essa proximidade de Deus. Minha experiência é que aqueles que têm fé de alguma forma conseguem resistir.  No passado, ouvi histórias de guerras, ofereci ajuda em várias circunstâncias, mas agora vivo a guerra pessoalmente. Eu não tinha ideia do que isso significava.

As pessoas deslocadas internamente continuam a chegar aos centros de vocês?

Sim, continuam, não em massa como no início, mas há 2 meses a cidade de Herson foi evacuada, e muitas pessoas chegaram aos nossos centros, no de lá e no da região de Bachmut.

E como mudou a ajuda da Caritas Spes, que tipo de apoio é necessário agora?

De acordo com as indicações da Organização Internacional, no início distribuímos bens de sobrevivência. Atualmente o maior esforço é direcionado para garantir dignidade às pessoas: disponibilizamos uma ajuda mensal em dinheiro para que possam comprar o que mais precisam; damos apoio social ou psicológico. Não se trata do mesmo apoio que pode ser recebido em condições normais. É uma guerra, e são necessários especialistas. Além disso, ainda faz frio, que vai durar até março.

Então, ajudamos muitas pessoas que vivem sem eletricidade, especialmente de Kharkiv, Kherson, Nikolaev. Fornecemos fogões a lenha, geradores, baterias, para sobreviverem, muitos vivem em casas destruídas. O frio afeta mais também por causa disso.

As crianças, em tudo isso, como vocês as apoiam?

Como Caritas Spes, temos casas para crianças órfãs. Algumas evacuaram no início da guerra, e agora estão voltando. O programa para elas continua, felizmente não estão nos lugares perigosos. Depois, há as famílias que vivem com crianças em abrigos, porque não querem sair da cidade. Cerca de trinta pessoas vivem em porões, em condições muito difíceis. Damos a elas ajuda humanitária e apoio psicológico, e essas crianças podem vir aos nossos centros aos sábados, onde realizamos workshops com os nossos animadores. Graças às doações, pudemos comprar tablets para elas, para que possam acompanhar as aulas de forma on-line, porque não há escolas nas quais possam participar presencialmente.

Com que espírito vocês operadores conseguem ainda lidar com essa situação?

Nossos colaboradores, que estão em diversas cidades da Ucrânia ainda depois de um ano, não têm tempo para descansar. Apesar dos bombardeios, eles trabalham de manhã até à noite. O cansaço se faz sentir, os centros estão cada vez mais lotados, mas há muitas pessoas que colaboram, muitos voluntários que entram em contato direto com o sofrimento das pessoas que perderam seus entes queridos, a casa, tudo o que fazia parte da sua vida. Tentamos acolher as dores das pessoas, suas histórias, e poder falar sobre isso dá muita força para ir em frente.

Onde vocês encontram força e esperança para ir em frente?

Conto-lhes a experiência de uma vizinha nossa, cujo marido está na guerra. Eles se amam muito. Não consigo imaginar o que aconteceria se esse marido morresse. Eu vejo muito sofrimento, muita dor. Frequentemente nos encontramos com ela para escutá-la, não é preciso dizer muita coisa; e eu me pergunto: mas de onde ela tira essa força? Eu não sei o que eu teria feito no lugar dela. Vejo o quanto ela está em doação por aquele marido, mas não só por ele, também por aqueles ao seu redor. E se antes, por exemplo, eu via que para ela era importante viajar, agora a única coisa que realmente importa é estar com ele. Eu nunca vi antes os ucranianos se mobilizarem tanto para ajudar os outros. Todos têm alguém no front e ajudam quem mais precisa. Muitas pessoas acreditam na vitória. E isso dá força, e depois há também a oração, a relação com Deus.

De nossa parte, o que podemos continuar a fazer?

Em primeiro lugar, devo agradecer-lhes, porque sem essa ajuda que é recolhida e enviada, não seríamos capazes de sustentar essas pessoas. Depois, como eu disse antes, a oração. Esse apoio é muito importante, dá força às pessoas para que elas resistam, para que possam ir em frente. Em terceiro lugar, vi muita violência e ódio neste ano.  Vamos ensinar as novas gerações a viver em paz, a abandonar esse ódio, essa violência. Isso pode ser feito ali onde estamos, na Ucrânia, mas também fora. Que essas guerras nunca mais aconteçam.

Apoio às atividades da Caritas Spes

Desde o início da guerra, graças aos fundos arrecadados como parte da ação realizada pela Coordenação de Emergência do Movimento dos Focolares, a AFN e a AMU, foi possível prestar assistência à população em fuga, com alimentos e necessidades básicas, mediante ações coordenadas pela Caritas Spes. Em uma fase posterior, foi possível dar apoio à atividade da Cáritas Spes, oferecendo assistência direta à população deslocada internamente nos centros Yablonitsa, nos Montes Cárpatos, na região de Ivano-Frankivsk e Bryukhovychi, perto de Lviv. Ao mesmo tempo, com a diocese de Kamianets-Podilskyj, foi iniciada a renovação de um centro multiuso para crianças, que pode ser usado como creche, apoio educacional e psicológico para crianças e mães, por meio de várias atividades recreativas. Nos primeiros meses de 2023, teve início uma nova fase, na qual se passou a prestar assistência de saúde e apoio psicológico na região de Kiev a residentes e pessoas deslocadas de regiões vizinhas, a quem estão garantidas consultas médicas, bem como exames de diagnóstico em três clínicas fixas e em uma clínica móvel que gira pela região. Prossegue ainda a ajuda de primeiros socorros que começou na fase inicial da intervenção.

Acolhida de pessoas da Ucrânia na Itália

Além do programa de acolhimento para mães refugiadas da Ucrânia e seus filhos, em Cosenza (SF 11 2022), graças aos fundos arrecadados pela Coordenação Emergência do Movimento dos Focolares, a Cooperativa Intra e o Instituto “Guido D’Orso” lançaram uma importante iniciativa de mediação linguístico-cultural para crianças que fogem da devastadora guerra que assola o território ucraniano há mais de um ano. As ações prosseguem com ótimos resultados e há previsão de que podem garantir ao longo do tempo o mesmo nível de aprendizagem para todas as crianças, facilitando a integração escolar e social. Desde o início do projeto, tem sido possível constatar um crescimento humano dessas crianças e melhoria na compreensão da língua italiana, o que lhes permite aumentar a autoestima, a adaptação, a integração e o desenvolvimento da capacidade de se relacionar com outras crianças.


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