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Os Jogos Paralímpicos: onde o 15% é o protagonista

 
2 setembro 2021   |   Internacional, ,
 
Photograph of Australian Paralympic team members at the 2012 Summer Paralympic Games in London

Quanto sabemos sobre os Jogos Paralímpicos? Pouco ou muito, não importa: neste artigo descobriremos a sua história, algumas curiosidades, as diferenças com os Jogos Olímpicos e os elementos que os tornam um evento desportivo único e diferente de todos os outros.

Nestes dias, em Tóquio, está sendo realizada a décima sexta edição dos Jogos Paralímpicos da história. O slogan desses Jogos é “Unidos pela emoção”, com a participação de 163 delegações em 22 modalidades esportivas. Neste artigo vamos descobrir mais sobre sua história, seu nome e a chama paralímpica, bem como a grande campanha dos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020: #WeThe15.

Por que são chamados de Jogos Paralímpicos?

Como dá para deduzir, a palavra “olímpico” provém de Olímpia, o lugar onde nasceram os Jogos Olímpicos na Grécia (para saber mais sobre Jogos Olímpicos, convidamos você a ler este artigo).

Mas o que significa “paralímpicos”?

Photo by Jonas de Carvalho_Paralympics Games – Rio 2016

Originalmente, o nome foi derivado da união entre as palavras “para”, de “paralisia” ou “paraplegia” (já que na época só participavam pessoas com essa forma de deficiência física), e “olímpica”. No entanto, o termo foi adotado posteriormente porque, em grego, o prefixo παρά (parà) significa “junto, com”, para designar um evento organizado com os Jogos Olímpicos.

Em 2001, o Comitê Olímpico Internacional e o Comitê Paralímpico Internacional assinaram um acordo que decretava a inclusão automática dos Jogos Paralímpicos na votação para decidir a cidade-sede dos Jogos Olímpicos (verão e inverno).

Quem é Ludwig Guttmann, pai das Paraolimpíadas?

Ludwig Guttmann era um neurologista judeu, naturalizado britânico após sua fuga da Alemanha nazista antes do início da Segunda Guerra Mundial.

Guttmann era considerado o maior neurocirurgião alemão até que os nazistas proibiram os judeus de praticar a medicina. Guttmann então se tornou diretor do Hospital Judaico em Breslávia/Polônia, entre 1933 e 1937. Em 1938, ele desobedeceu à ordem da Gestapo de não cuidar de pacientes não judeus, decidindo deixar qualquer pessoa entrar no hospital. Diante da pressão da Gestapo para justificar sua desobediência, Ludwig foi forçado a fugir do país e pediu ajuda ao Conselho de Assistência para Acadêmicos Refugiados (CARA) a fim de se estabelecer na Inglaterra.

Entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, a taxa de mortalidade por paraplegia de trauma no Exército Britânico atingiu 80%. Foi por esta razão que Guttmann realizou pesquisas sobre o tratamento e a reabilitação de pacientes com lesão medular. Com base nesse estudo, optou-se por abrir um centro de atendimento para pessoas com esse tipo de lesão.

Em 1944, sob a direção do Dr. Guttmann, entrou em funcionamento o Hospital Stoke Mandeville, em Aylesbury, no sudeste da Inglaterra. Inicialmente, recebia apenas soldados feridos, mais tarde também atendeu civis. O principal objetivo de Guttmann era a reintegração dos pacientes como membros respeitados da sociedade, o que ele alcançou aplicando os próprios métodos de tratamento.

Australian Paralympian receives gold medal at the 1968 Tel Aviv Paralympics from Paralympic movement founder, Ludwig Guttmann (Creative Commons License)

Como os Jogos Paralímpicos nasceram das mãos de Guttmann?

Em sua juventude, Guttmann havia praticado esportes e sabia de sua importância. Ele o considerava como uma atividade que ajuda a recuperar as forças, a coordenação e a resistência, e que, além disso, permite neutralizar os desconfortos psicológicos que as pessoas com deficiência podem encontrar, em menor ou maior grau: isolamento, baixa autoestima, ansiedade etc.

Por esse motivo, no Hospital Stoke Mandeville, cadeirantes passaram a praticar esportes como basquete, arco e flecha, netball, lançamento de dardo, bilhar… e em 1948 aconteceram os Jogos de Stoke Mandeville, para os quais foi convidada uma equipe de pacientes de outro hospital. Em 1949, participaram 37 atletas de seis hospitais, e começou a ocorrer um movimento semelhante ao olimpismo, mas que tinha como protagonistas atletas com deficiência. Em 1951, chegaram 126 participantes de todo o Reino Unido e, em 1952, atletas de outro país (Holanda) participaram pela primeira vez. Pouco depois, em 1959, chegaram 360 participantes de 20 países.

Assim veio 1960, ano em que aconteceram os primeiros Jogos Paralímpicos da história, logo após os Jogos Olímpicos de Roma. Participaram 209 atletas de 18 países em oito modalidades. Apenas pessoas com lesões na medula espinhal participaram desses Jogos.

Australian team 1960 Paralympics Opening Ceremony (License Creative Commons)

Os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020

Hoje, os Jogos Paralímpicos são compostos por uma série de disciplinas divididas em subcategorias, dependendo do tipo de deficiência dos participantes. As deficiências podem incluir potência muscular reduzida, amplitude passiva de movimento diminuída, falta total ou parcial de membros, baixa estatura, hipertonia, ataxia, atetose, deficiência visual e deficiência intelectual. Essas categorias, por sua vez, são subdivididas e variam de um esporte para outro.

Estes Jogos estão recebendo 539 eventos em 22 modalidades (nesta edição foram adicionados o badminton e o taekwondo, que substituíram o futebol de sete e a vela, cancelados por falta de participação internacional).

A cerimônia inaugural de Tóquio 2020

Embora a cerimônia apresente quase todos os elementos dos Jogos Olímpicos, existem algumas peculiaridades. Uma delas é que, nos Jogos Paralímpicos, não é a Grécia que desfila primeiro, porque não é o berço deste evento.

A ordem dos países no desfile é estabelecida de acordo com a ordem alfabética do idioma local: por exemplo, em japonês, a Islândia e a Irlanda são os primeiros da lista. No entanto, quem abriu o desfile foi a Equipe Paralímpica de Refugiados. E quem fechou foi a delegação local, o Japão.

A chama paralímpica

Como escrevemos no artigo sobre os Jogos Olímpicos, a chama desse evento parte da pátria dos Jogos, que é Olímpia, na Grécia. Nos Jogos Paralímpicos, porém, a chama nasce no país-sede, e é esse país que decide como será acesa.

Por ocasião dos Jogos Paralímpicos de Londres 2012 foi decidido acender uma tocha em cada uma das quatro nações que compõem o Reino Unido (País de Gales, Inglaterra, Irlanda do Norte e Escócia), para então unificá-las e assim acender a chama olímpica no estádio Stoke Mandeville, cidade onde Ludwig Guttmann deu origem aos Jogos Paralímpicos.

Em Atenas 2004, a chama foi acesa no coração da cidade, no Teseion ou Templo de Hefesto, em homenagem ao deus do fogo que, segundo a mitologia helênica, possuía uma deficiência, ele claudicava, tendo sido lançado do alto do Olimpo por sua mãe Era.

Em Tóquio 2020, a chama foi acesa em cada uma das 47 prefeituras do Japão por diversas pessoas e em lugares simbólicos, como a icônica Cúpula Genbaku, também conhecido como “Cúpula da Bomba”, hoje um Memorial da Paz localizado no local em que caiu a primeira bomba atômica lançada pelos Estados Unidos.

Delegações nos Jogos Paraolímpicos de Tóquio 2020

163 delegações participam desses Jogos Paralímpicos, incluindo a Refugee Paralympic Team (RPT é a abreviatura em inglês da Equipe Paralímpica de Refugiados), o Comitê Olímpico Russo (já que a Federação Russa foi penalizada e não pôde participar como país) e a delegação do Afeganistão, cujos atletas estavam ausentes no momento da cerimônia. Isso se deve ao fato que, em 16 de agosto, após a tomada de Cabul pelo Talibã, o Afeganistão se retirou do evento. Seus dois representantes, o atleta de taekwondo Zakia Khudadadi e o corredor Hossain Rasouli, conseguiram chegar a Tóquio no dia 28 de agosto e puderam participar dos Jogos.

Refugee Paralympic Team

#WeThe15, a campanha dos Jogos de Tóquio 2020

15% da população mundial tem alguma forma de deficiência, e esta campanha visa chamar a atenção para essas pessoas. O objetivo de “Nós, o 15” ou “WeThe15” é abater barreiras e “dar início a uma mudança na próxima década, reunindo a maior coalizão de organizações internacionais do mundo do esporte, dos direitos humanos, da política, da comunicação, do empreendedorismo, da arte e do entretenimento”.

“Assim como para raça, gênero ou orientação sexual, queremos criar um movimento do qual todas as pessoas com deficiência possam participar. Um movimento global que conscientize a população para a visibilidade, inclusão e acessibilidade da deficiência”, como explica o site oficial da campanha.

Os Jogos Paralímpicos, embora muito menos famosos que os Olímpicos, são uma oportunidade para apoiar atletas dos nossos países (e de outros países) a fim de que eles alcancem uma posição melhor no mundo do esporte e na sociedade.

Os Jogos Paralímpicos são uma oportunidade para compreender a capacidade de resiliência do ser humano, a capacidade que cada um de nós tem de superar os próprios limites, de fazer mais do que julga possível, de renascer da dor.

E, mais do que tudo, os Jogos Paralímpicos são, tal como sonhou o seu criador Ludwig Guttmann, uma oportunidade de dar visibilidade às pessoas com deficiência, para que sejam respeitadas como todas as outras, e para gerar espaços nos quais elas possam desenvolver seu potencial. Não mais e não menos.

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