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Clothest, o e-commerce sem fins lucrativos

 
28 maio 2021   |   , ,
 

A equipe da Clothest (Florença, Itália), ao renovar roupas usadas de alta costura, combate a cultura do descarte: «Sabemos muito bem que o descarte, que a “pedra rejeitada” tornou-se a pedra angular. Assim, com o nosso trabalho, procuramos redescobrir a beleza naquilo que era um descarte, dando-lhe um novo valor».

Letizia Baldetti trabalha no mundo da moda e também é uma das jovens voluntárias da Casa Lar do Giglio di Montevarchi (Arezzo, Itália), que hospeda cerca de quarenta pessoas, entre residentes permanentes e temporários. Na paróquia de Santa Maria del Giglio, dirigida pelo padre Mauro Frasi e localizada bem próxima da linha férrea, existe também um Centro de Escuta Caritas e um centro de distribuição de comida e roupa, em torno do qual gravitam anualmente cerca de 200 pessoas. «Os hóspedes em geral chegam sozinhos, 90% da estação de trem. Dizemos que a nossa é uma Casa Lar “entre a estação e a igreja”», brinca Letizia. Entre os hóspedes permanentes há pessoas com problemas psiquiátricos e entre os temporários há muitos desempregados. São estrangeiros, mas também italianos: «Os italianos têm em média mais de 50 anos, são homens que acabaram na pobreza depois de uma separação ou por causa da perda do emprego, devido à crise. Alguém chega sozinho depois de ter dormido muitas noites na rua ou porque alguém nos mencionou”.

A Casa Lar é também o ponto de encontro semanal dos jovens engajados na paróquia, e foi aí que nasceu a ideia da Clothest, há cerca de cinco anos: «Num domingo à noite estávamos na Casa Lar jantando ou fazendo outras atividades; e ali, trabalhando na distribuição de roupas usadas, começamos a notar que estavam chegando roupas de marcas importantes. Esse fato, é claro, não era significativo para uma pessoa pobre, que estava mais interessada em um edredom resistente ao frio. Assim, nós nos perguntamos se haveria uma forma de podermos utilizá-los melhor, ajudando ainda mais os próprios pobres… ». Nasceu a ideia de “Francisco The S-Hope”, uma associação de voluntariado inspirada nas palavras e pensamentos do Papa Francisco sobre a cultura do descarte: «Trabalhamos em uma Casa Lar e sabemos bem que as pessoas que vêm a nós são os “descartados” da sociedade, assim como as roupas que chegam até nós são as descartadas do armário das pessoas. No entanto, o descarte, a pedra descartada, tornou-se a pedra angular. Portanto, com o nosso trabalho, procuramos redescobrir a beleza naquilo que era um descarte, buscamos dar-lhe um novo valor». Em pouco tempo, o grupo recolheu cerca de 2.400 peças de roupas usadas que são vendidas em lojas temporárias e no eBay.

Hoje, os jovens engajados no projeto são 17 e vêm de várias regiões da Toscana: Prato, Pisa, Le Sieci, Pontassieve, Levane, Cavriglia. Entre eles alguns se encarregam de fotografar as peças de roupa, outros as renovam, outros criaram o software de gestão do magazine e outros criam os novos looks. Combinando os diversos talentos, eles criaram a Clothest*, um e-commerce sem fins lucrativos que coleta e comercializa roupas usadas de marca, de alta costura, a fim de financiar os projetos assistenciais da Casa Lar de Montevarchi. No seu site existe também o espaço para contar as histórias das roupas renovadas, porque para eles “não existem os descartes, mas cada coisa tem uma história e um valor, como todo ser humano tem um nome, uma história e uma dignidade própria”.

«A história que mais me tocou pessoalmente foi a do vestido da Enza… – recorda Letizia –. Estávamos na casa dela e do marido com o grupo de jovens da paróquia, para realizarmos a formação e pedir-lhes que nos contassem a própria história. Contamos a eles sobre a Clothest. Enza não pensou duas vezes, levantou-se, subiu até o quarto e tirou um vestido do guarda-roupa, trouxe-o e nos disse: “Este é o vestido que usei para acompanhar meu filho ao altar; guardei-o porque me lembra um dos dias mais lindos e mais importantes da minha vida, mas agora encontrei realmente um lugar melhor para ele!”. Logicamente ficamos emocionados!».

Há também a história de um vestido de noiva, entre os novos looks da Clothest. Lemos: «Sou um voluntário da Caritas. Fiquei viúvo. Uma das coisas mais difíceis quando você perde a pessoa amada é se desligar das coisas “dela”. Mas daí você percebe que mantê-los ali não a fará voltar… Então, você começa a pensar em como usá-las, como respeitar o que está contido ali, as recordações dela. Quando vi isto, o vestido do nosso casamento, foi difícil, foi como uma facada no coração. E o que eu faço com isso? Então, numa das reuniões, padre Mauro nos falou sobre a Clothest*. Fui até a minha casa, peguei-o e trouxe para ele… Que este vestido continue a viver e continue a levar no mundo a recordação da nossa história de amor».

O projeto Clothest* encontrou seu espaço no Centro Lionello Bonfanti (Loppiano, Florença), um ponto de referência para as empresas italianas que aderem ao projeto de Economia Civil e de Comunhão. «Estar no Polo nos permite ser um verdadeiro magazine, pois as peças que recolhemos nestes 5 anos são muitas! No momento, estão à venda 200 peças. Aqui temos a possibilidade de ter o estúdio fotográfico no mesmo local onde está o magazine. Outro sonho é o de encontrar um espaço onde possamos instalar também a lavandaria e a alfaiataria, onde possam ser feitos os pequenos ajustes: é aqui que veremos as primeiras vagas de trabalho para as pessoas desfavorecidas». Porque a próxima meta, o próximo sonho da Clothest* é inserir em sua equipe também aquelas pessoas acolhidas na Casa Lar, que são as destinatárias do que é arrecadado no e-commerce.

«Achamos que não é necessário fazer quem sabe que revolução para mudar o mundo… mas a revolução pode começar a partir das pequenas coisas, simplesmente olhando com atenção o próprio guarda-roupa e escolhendo uma roupa a ser doada, ao invés de jogá-la fora gerando um descarte. Ou então optar por comprar uma peça de roupa usada em vez de uma nova, poupando muita energia ao planeta», conclui Letizia.

www.clothest.it


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