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Feliz por ser mãe

 
19 maio 2020   |   Quênia, Coronavirus,
 
Por Giovanna Pieroni

Giovanna Pieroni, da AFN (Azione per Famiglie Nuove onlus), conta a história de Millycent, assistente social do projeto de apoio que a associação possui em Mathare (Nairóbi). Recentemente, ela deu à luz uma menina, desafiando os riscos da epidemia de Coronavírus e as condições da favela.

A maternidade é uma experiência única e universal: toda mãe no mundo ama com o mesmo coração, com a mesma coragem e esperança em criar e alimentar seu bebê; com os mesmos braços que o seguram; os olhos com os quais lhe sorri. Mas existem maternidades mais especiais do que outras, porque o contexto em que ocorrem exige recursos especiais.

Millycent Ong´Wenyha mora em Mathare, uma grande favela de Nairobi, com 500.000 pessoas. Ela é assistente social do projeto Magnificat que, através do programa de apoio à distância da AFN, garante às crianças da favela diversas possibilidades, das quais ela mesma se beneficiou quando criança: a mãe era alcoólatra e o pai não tinha emprego estável, mas através do projeto ela conseguiu estudar. Após a formatura, Millycent sentiu que não podia deixar Mathare, mas tinha que ficar ali e ajudar no crescimento das crianças. Ao lado de outros colaboradores, ela acolhe todas as manhãs crianças de 3 a 5 anos na capela de Sant’Anna, que durante o dia se transforma em um jardim de infância. Com jogos, músicas, atividades e muito amor, ela os vê progredir e lançar as bases do próprio futuro. Tem certeza da eficácia desse trabalho, tendo-o experimentado ela mesma; e essa confiança é o que lhe dá novas forças todos os dias para continuar enfrentando os desafios da favela, onde mora com sua família. Há um mês, nasceu sua quarta filha, Lorenza Nizana, que veio à luz justamente quando o risco da epidemia de Coronavírus se tornou real.

“De repente, o Covid19 se tornou a principal notícia do país, diz Millycent. Medidas governamentais rigorosas impuseram a interrupção das atividades de ensino: todas as crianças não podiam mais ir à escola. Eu me senti totalmente vulnerável. Como eles. Precisando de tudo. Em questão de duas semanas a situação piorou. Os pais perderam o emprego, que consistia principalmente em serviços domésticos ou trabalhos ocasionais na construção civil. Recebia um pedido de ajuda todos os dias, até que fiquei doente. Pensando em todos eles, não podia desistir, tinha que ser forte. Graças à ajuda recebida, pudemos distribuir uma máscara e alimentos para cada família. A situação só piorava, mas continuei incentivando as crianças a serem positivas em seus objetivos e expectativas. O toque de recolher começou. Um inferno. O transporte tornou-se difícil e caro, o preço dos alimentos subiu. Os estabelecimentos de saúde tornaram-se proibitivos por causa do custo, do medo de contágio e da quarentena. Mães temiam perder seus filhos. Mas a situação, apesar de tudo, teve um impacto positivo na prática da higiene, no crescimento espiritual das famílias, confiando no dom do Universo”.

Segundo dados oficiais da OMS, o Quênia é um país prioritário para a implementação de medidas preventivas ao Covid19, uma vez que apenas 62% da população tem acesso a água limpa e 31% ao saneamento básico. O número de leitos é muito limitado, e a proporção entre o pessoal da saúde e a população é de 1 para cada 100.000 habitantes. As pessoas em maior risco são justamente as famílias das favelas, que são numerosas e vivem juntas sob o mesmo teto, com ausência de banheiros ou usando aqueles que são compartilhados com outras famílias.

Em 12 de abril, Millycent foi ao hospital para um check-up porque estava com dificuldades respiratórias e teve de ficar para ser examinada. Fizeram um ultrassom para verificar a condição do feto. A situação era crítica. Millycent foi imediatamente hospitalizado. O processo de parto começou, mas “eu não conseguia responder a nenhum esforço – diz Millycent – e, no final, eu só tinha uma opção: enfrentar a cesariana. Eu me senti arrasada porque ninguém da minha família tinha feito cesariana, nem eu para dar à luz meus outros filhos. Mas decidi ser positiva e pensar em salvar a vida daquela criatura. Foi uma experiência terrível, mas agradeci a Deus por tudo. À uma da manhã, fui abençoada com o presente de uma menininha. Apesar das dores, decidi esquecer os pensamentos negativos. Escolhi ser feliz, alegre, emocionalmente livre do que havia vivenciado. Afinal, era segunda-feira de Páscoa, um bom momento para se alegrar com o Ressuscitado. Agora me sinto feliz por ser mãe, forte na saúde e satisfeita”.

Há um provérbio africano que diz: “O sol nunca deve nascer duas vezes em uma mulher em trabalho de parto”; de fato, o nascimento geralmente demora muito tempo e pode ter um resultado fatal para a mulher e a criança em muitos países em desenvolvimento. No entanto, em todo lugar neste mundo a coragem de amar e de dar vida é sempre a coisa mais forte. Como Millycent diz, “confiando no dom do Universo?”…


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