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Japão – Óculos inteligentes para não excluir ninguém

 
16 novembro 2020   |   , ,
 
Por Maria Gaglione – publicado no site Avvenire em 21/06/2020

#EdF: histórias – Keisuke Shimakage é um jovem empresário japonês que fundou a Oton Glass em 2014 para ajudar o seu pai. O dispositivo ajuda pessoas cegas ou deficientes visuais ou disléxicos.

Desenvolver uma pesquisa, concretizar uma empresa. Keisuke Shimakage é um jovem empresário japonês. Em 2014 ele fundou uma empresa «porque – diz Keisuke – na nossa sociedade ninguém deve ser deixado para trás». Trata-se da Oton Glass, uma empresa que fabrica óculos “inteligentes” para pessoas cegas e deficientes visuais, disléxicos ou com patologias significativas que impedem uma leitura correta de mensagens. Esses óculos tornam possível converter imagens de texto escrito em sons, através da computação em nuvem.

O formato é semelhante ao dos óculos tradicionais, porém eles incorporam duas câmeras e um fone de ouvido. A tecnologia subjacente é complexa e sofisticada, resultado da colaboração com grupos de pesquisa universitários (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial Avançada do Japão), o que também levou a publicações científicas. «Graças a esse dispositivo, a imagem do texto que você quer reproduzir – explica Keisuke – é enviada para um sistema, usando Raspberry Pi, e uma vez processada, é transmitida ao usuário através do fone de ouvido. O dispositivo também pode fornecer, se necessário, a tradução do texto para o idioma desejado». Assim, empresa e pesquisa, tecnologia e implementação, tudo direcionado a superar dificuldades e barreiras. Na origem desta ideia comercial existe uma história pessoal de Keisuke.

«Comecei a trabalhar no projeto do Oton Class para que meu pai pudesse recuperar seu déficit visual. Em 2012, após a cirurgia, ele desenvolveu uma forma de dislexia. A primeira coisa que fiz durante aquele período foi “entrevistá-lo” para entender os problemas que ele tinha em sua vida cotidiana e observar o seu comportamento. Durante a fase de concepção, eu preparei esboços e projetei protótipos no computador. Formei então uma equipe de engenheiros e designers que fizeram um primeiro protótipo de viabilidade. Meu pai fez os testes e, com base em suas indicações, fizemos outras modificações para fazer protótipos mais avançados, que foram submetidos a outras cinco pessoas disléxicas que nos deram outras sugestões».

Keisuke manteve esta abordagem em sua jovem empresa. «Foi essencial para nós criar uma comunidade de engenheiros de desenvolvimento, programadores, pesquisadores e deficientes visuais que são os nossos usuários finais”. A presença desses últimos, colaboração e feedback são inestimáveis. É uma alegria saber que essa ferramenta os ajuda a ter mais autoconfiança, a sair de casa e interagir mais facilmente com os outros, inclusive no âmbito do trabalho. Algumas cidades, tais como Toyooka, Sibuya, Fuchu, Mitsuke, reconheceram Oton Glass como um dispositivo de assistência para as pessoas com deficiência».

Ainda existem muitos projetos para melhorar os óculos inteligentes de Keisuke, que olha para o futuro com a esperança de construir uma nova economia, capaz de acolher a fragilidade humana e dar respostas concretas. Fazer pesquisa no campo das novas tecnologias também significa “tomar cuidado”. Aliás, projetar óculos inteligentes pode ser um meio para a inclusão social.


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