United World Project

Workshop

Contadores de histórias em apoio às mulheres iranianas. O poder salvífico da palavra.

 
23 dezembro 2022   |   Internacional, ,
 

O ano de 2022 não foi fácil para falar de paz e direitos humanos. Vimos cidades inteiras bombardeadas, como no caso da Ucrânia, mas também vimos populações atacadas injustamente por seus líderes, como está acontecendo no Irã.

Aqui no site de United World Project, ao longo dos anos, narramos algumas iniciativas, nascidas da dor e das feridas, que tentam construir pontes de fraternidade. A estas acrescenta-se outra iniciativa, que se inspira no poder da palavra.

Para entender melhor do que se trata, vamos retornar a setembro deste ano. Mahsa Amini era uma jovem iraniana de 22 anos. Ela foi presa em Teerã pela “Polícia Moral” em 13 de setembro. O motivo: estava usando “mal” o hijab. A jovem foi levada para uma delegacia, onde morreu mais tarde.

Sua morte causou a indignação de milhares de pessoas não só no Irã, mas também ao redor do mundo. Muitas mulheres no Irã optaram por protestar jogando e queimando seus hijabs. A esses protestos juntaram-se também os dos homens iranianos; o governo, porém, respondeu com ainda mais ferocidade, condenando muitos deles ao enforcamento.

Por todo o mundo, muitas mulheres adotaram a antiga tradição curda de cortar o cabelo para expressar o luto, transformando isso em um sinal de revolta e apoio às mulheres iranianas.

Nesse contexto nasceu uma iniciativa que procura acolher e valorizar a força da palavra. Trata-se de uma maratona de leitura organizada pelos jovens de  A Economia de Francesco.

“Sentimos o dever de estar ao lado das mulheres iranianas que lutam por sua liberdade e de todos os jovens que buscam – arriscando a vida – construir um futuro melhor”, declararam os jovens em um comunicado. “Faremos isso com as palavras, para destacar  o poder ‘salvífico’ da palavra, o direito de expressão e de protesto”.

E foi o que eles fizeram. Eles definiram uma data, 7 de dezembro, em que o Irã celebra o Dia do Estudante. A maratona começou às 7h (horário da Europa Central). A cada 30 minutos, uma pessoa diferente lia uma história ou uma passagem de um dos contos das Mil e Uma Noites, livro que não foi escolhido por acaso.

Ele começa com a história do rei Shahriyar, que, traído por sua esposa, decide se casar com uma mulher diferente todos os dias e depois matá-la. Isso acontece até que Shahrazad, filha do vizir, inventa uma solução com a ajuda de sua irmã Dinarzad: entreter o rei todas as noites, contando-lhe uma nova história e adiando o final da história para a noite seguinte. O experimento funciona e, ao final dos “mil” contos, o rei esquece seu ódio pelas mulheres.

As histórias, as narrações, tornaram-se um lugar seguro para aquelas mulheres. Hoje, onze séculos depois que esse livro foi escrito, a história recupera as páginas para acolher a dor das mulheres persas e recordar que a palavra da mulher é vida, é sabedoria e é comunidade.

Da Itália, Portugal, Alemanha, Costa do Marfim, Noruega, Guatemala, México, Peru, Argentina e Filipinas até o Oriente Médio justamente, passando pelo Iraque, Afeganistão, Paquistão e Síria, os jovens de A Economia de Francesco passaram o bastão lendo, narrando, contando e deixando uma marca na história.

“O amanhecer despontou”, disse Shahrazad.  “O que resta é a parte mais bonita da história.” O sultão, determinado a ouvir o fim, deixou Shahrazad ainda viva por aquele dia…
Mil e Uma Noites


SHARE: