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Egito: o anseio por mulheres livres e com direitos

 
8 março 2023   |   , ,
 

No Dia Internacional da Mulher, queremos dar voz às mulheres que, embora em contextos de grandes desigualdades, sofrimentos e limitações, deram um passo à frente e trabalham para reduzir as lacunas enraizadas por gerações, como as na economia. Hoje, em particular, escutamos Samah Kades Shody, do Egipto, um país onde muitas mulheres não têm o direito de estudar ou trabalhar.

«Eu levanto a minha voz não para que eu possa gritar, mas para que aqueles sem voz possam ser ouvidos… Não é possível prosperar quando a metade das pessoas ficam para trás.» Essa frase da ativista Malala Yousafzai representa o clamor de muitas mulheres ao redor do mundo que, condenadas socialmente pelo fato de serem mulheres, sofrem atrasos históricos.

Em The Economy  of  Francesco (Economia de Francisco), jovens economistas e agentes de mudança dedicaram um espaço para abordar a questão das desigualdades econômicas entre as mulheres no mundo todo.  Dentro desses processos e temas, encontramos Samah, uma jovem que quis narrar como o ambiente em que cresceu tem sido um cenário cruel para quem é mulher.

Samah é egípcia, de uma cidade chamada Sohag, no centro do país. Ela enfatiza, desde o início, que a realidade que é vivida no Centro e no Sul de seu país é muito diferente da que é vivida no Norte. Samah é advogada e está terminando um mestrado em Economia e Gestão no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Sua paixão sempre foi atender às necessidades dos últimos. Precisamente por isso, durante mais de 10 anos, foi voluntária em diversas organizações, como a Caritas e a Save the Children.

Sua passagem por essas organizações permitiu-lhe tocar com as mãos realidades muito difíceis: jovens obrigadas a se casarem, a abandonar a escola e até condenadas a práticas como a MGF (mutilação genital feminina).  Em 2021, as Nações Unidas estimaram que 86% das mulheres egípcias casadas com idades entre 15 e 49 anos haviam sido submetidas à mutilação genital feminina. «Eu não sabia o quanto é comum essa prática no meu país – diz Samah – até que trabalhei em programas de saúde e a partir daí tentei educar as pessoas, fazendo-as ver que essa prática não era boa e que com ela poderiam até acabar com a vida dessas meninas, que geralmente têm entre 8 e 15 anos

Para saber mais precisamente sobre os desafios que as mulheres enfrentam nesse país, basta dar uma olhada em alguns fatos como estes:

  • Em 2020, o Egito ficou em 134º lugar entre 153 países no Índice Global de Disparidade de Gênero.
  • Ocupa o 140º lugar entre 153 países em participação econômica e oportunidades para as mulheres.
  • Apenas18% das mulheres em idade ativa participam na economia, em comparação com 65% dos homens.

«É doloroso ver jovens de 16 ou 17 anos sendo forçadas a se casarem e sendo levados a acreditar que sua única obrigação na vida é trazer filhos ao mundo», disse Samah, enfatizando que isso se torna uma condenação para o desenvolvimento. Logo transfere para o plano econômico: «Isso significa que elas devem abandonar a educação – ela continua – e abandonar qualquer possibilidade de crescimento profissional. A consequência é evidente: é muito difícil ver uma mulher que seja empreendedora ou que ocupe altos cargos nos negócios». Para Samah, esses processos que relegam as mulheres são permeados pela violência social, física e psicológica.

Um legado geracional

Muitas das práticas que atentam contra as mulheres no Egito têm suas origens em fatores culturais e geracionais, que permaneceram como um legado infeliz para a sociedade. Samah ressalta que um primeiro passo para quebrar essas correntes é elevar a conscientização e ensinar às próprias mulheres que o direito de decidir e de traçar o próprio futuro não pode ser pisoteado por estigmas e preconceitos sociais.

Samah enfatiza que, embora tenha a sorte de poder estudar no exterior, esse fato não foi fácil, porque para isso sua mãe teve que pedir permissão aos homens que governam sua família e enfrentar os estigmas dessa decisão.

Embora o passado seja impossível de mudar, ainda há muito a fazer pelo futuro, para as gerações futuras.

«Sonho com novas gerações, capazes de entender que têm o direito de escolher livremente o que querem para suas vidas. Sonho com homens que veem as mulheres com novos olhos e reconhecem nelas suas capacidades como parceiros de negócios, de estudo, de trabalho. Sonho com uma sociedade sem estigmas», diz Samah.

É nesse caminho rumo à construção de novos processos econômicos e sociais que ela descobriu a comunidade global Economia de Francisco, na qual acredita ter encontrado jovens líderes capazes de construir mudanças tangíveis nos próprios territórios. A partir da aldeia temática “Women for economy” (Mulheres pela economia), ela foi capaz de abordar questões que em seu país seriam simplesmente impossíveis de lidar. Os desafios são grandes, mas ela é encorajada ao conhecer e ao interagir com jovens colegas que tentam mudar as coisas a partir das pequenas comunidades em que vivem.

Inspirada por essas realidades, Samah espera que, quando terminar o mestrado e retornar ao seu país, possa contribuir com mais força e conhecimento com as famílias que constantemente se aproximam dela para pedir conselhos e ajuda, e gerar mudanças que partem do social, mas que chegam a influenciar a economia. E para as mulheres ela diz: «Vamos lutar e resistir. Vamos trabalhar com determinação».


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