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Em Nairóbi, jovens “influenciadores da paz”

 
25 novembro 2025   |   Quênia, paz, New Humanity NGO
 
Nairobi - T4NA
Nairobi – T4NA
Por Daniela RopelatoMario Bruno

Em Nairóbi, no centro da África – um continente de 54 países em rápido crescimento, onde a população menor de 30 anos representa cerca de 70% do total –, emerge a proposta de uma perspectiva de compromisso bem articulada, que se estende ao planeta e qualifica as gerações dos jovens para liderarem os processos de transformação à luz de uma visão humanista comunitária de reciprocidade e compartilhamento.

Nairóbi, Quênia – de 10 a 12 de novembro de 2025. O ato conclusivo da Conferência Internacional “Cities, Communities, Care. Youth in Action for Sustaining Peace” (“Cidades, Comunidades, Cuidados. Juventude em Ação para Sustentar a Paz”), que se realizou no auditório da Mariápolis Piero, foi a aprovação dos trabalhos da “Charter of Commitments Nairobi 2025” (“Carta de Compromissos Nairóbi 2025”). O texto contém não apenas uma série de apelos incisivos, mas também declara os compromissos assumidos por jovens da África e de todo o mundo, presentes na conferência ou conectados online, em vista de um caminho participativo e articulado, que compôs suas reflexões e interações.

Together for a New Africa - Kenya
Together for a New Africa – Kenya

A iniciativa promovida por New Humanity, ONG do Movimento dos Focolares, por ocasião do 80º aniversário da ONU, exigiu mais de um ano de reflexão e preparação operacional, com a ousadia de focar a atenção nos complexos ecossistemas das cidades contemporâneas, nos quais estão concentrados os maiores desafios da atualidade, diante do horizonte urgente da paz. Eis o quadro do evento: 8 mesas-redondas, mais de 30 palestrantes, 8 conexões – ao vivo e gravadas em vídeo – com cidades de 5 continentes. Privilegiando o diálogo com os jovens, por meio de testemunhos e percepções, houve um debate sobre o crescimento urbano e a cogovernança, o desenvolvimento e o cuidado com o meio ambiente, a construção da paz hoje protegida pelo sistema das Nações Unidas.

Diversas organizações aderiram à iniciativa: Greening Africa Together, Living Peace International, a Rede Juvenil Inter-religiosa da África, a Associação Internacional de Sociologia (Grupo Temático Solidariedade e Amor Social), o Movimento Laudato Si’ África, o Centro Universitário ASCES, de Caruaru, no Brasil. “Agir em sinergia foi um dos aspectos mais interessantes do nosso trabalho, e o experimento nos parece ter sido bem-sucedido”, diz Catalina Hinojosa, jovem equatoriana que é a vice-presidente da New Humanity.

Em uma fase na qual, em muitos lugares de tomada de decisão política, o nacionalismo não é apenas uma estratégia, mas se torna uma visão de mundo, não estava óbvio que a intenção pudesse alcançar o objetivo. Como tematizar, por exemplo, o 80º aniversário da ONU? A assembleia confirmou a ancoragem no direito internacional e, ao mesmo tempo, solicitou uma arquitetura institucional adequada à demanda dos povos por paz, enraizada em uma visão da humanidade e do planeta que deve preceder interesses e posições particulares, escolhendo o multilateralismo a partir de baixo, a corresponsabilidade das instituições continentais, o diálogo a todo custo.

Nairobi, Kenya
Nairobi, Kenya

Nas sessões, assim como nos grupos de trabalho, foram os jovens que assumiram o papel de agentes de mudança e “influenciadores da paz”. Eles pediram que fossem integrados aos modelos urbanos os valores de uma socialidade autenticamente comunitária que, por exemplo, na África se reflete na vida das aldeias africanas. Eles imaginaram programas comunitários, educacionais, sociais e artísticos, ações de empreendedorismo juvenil. Acima de tudo, pediram para liderar a transformação rumo a um planeta sustentável e reconciliado, apoiado por redes sem fronteiras. É uma perspectiva que pode se tornar realidade, “criando mecanismos permanentes de colaboração – local e internacional – e garantindo que os jovens estejam envolvidos nos processos de tomada de decisão”.

A conferência foi inaugurada por mensagens em vídeo de Felipe Paullier, assistente do secretário-geral da ONU para a juventude, e de Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares. Paullier, após lembrar que Nairóbi é uma das três principais sedes das Nações Unidas, disse que “toda guerra é uma derrota para a humanidade, um fracasso do diálogo e da compaixão. Os jovens não são apenas vítimas das crises atuais: são criadores, líderes e construtores da paz”. E há mais de 2 bilhões de jovens “prontos para serem parceiros na construção do nosso futuro comum”. Uma mensagem clara para todos é esta: ao confiar em uma geração que “resiste ao ódio, rejeita a indiferença e escolhe a paz como responsabilidade cotidiana”, é possível fortalecer cidades e comunidades, pois é “nos bairros, nas escolas, nos locais de culto e nas comunidades locais que a cooperação se torna tangível”.

Para ressaltar a mudança urgente de ritmo, exigida pela conferência, Margaret Karram quis relembrar a iniciativa, agora com dez anos, de formação para uma liderança de comunhão lançada pelo Instituto Universitário Sophia e pelo Movimento Político pela Unidade com o programa “Together for a New Africa” (“Juntos por uma Nova África”). O percurso, em seu último ciclo de três anos, envolveu 140 jovens de 14 países africanos, com tutores e professores que, nos dias que antecederam a conferência, realizaram sua Escola de Verão anual em modo híbrido, para coletar e discutir os resultados de suas ações locais. Outro programa recordado por Karram é “One Humanity, One Planet: Synodal Leadership”, (“Uma Humanidade, Um Planeta: Liderança Sinodal”), que há um ano reúne 150 jovens de 60 países ao redor do mundo, ativos nas esferas política e da sociedade civil. Jovens “que se formam e trabalham para implementar boas políticas e gerar impacto social, com uma visão de solidariedade inspirada na cultura de unidade”.

Together for a New Africa - Kenya
Together for a New Africa – Kenya

Essas são perspectivas que definem o compromisso de todo o Movimento dos Focolares, que já “culminou no documento Together To Care (Juntos para cuidar), entregue à ONU há um ano”, explicou a presidente, “valorizando iniciativas como Living Peace, que envolve mais de 2 milhões de adolescentes no mundo” e que, com a “AMU com quase 900 projetos de cooperação, testemunham um compromisso concreto e abrangente”. Nesse contexto, apreciou o esforço de “desenhar um caminho comum para redefinir a vida urbana, valorizando e fortalecendo os laços sociais”, e acrescentou: “O quanto as culturas africanas têm a nos ensinar sobre esse aspecto importante”.

Foi incisivo o seu convite a redescobrir no coração das cidades “comunidades de solidariedade e reconciliação”, “imperceptíveis aos olhos humanos”: “Cidades invisíveis’ que, no seu pequeno espaço, dia após dia, contribuem para construir uma rede mundial de paz e mostram que um mundo diferente é possível”. Por fim, a ideia de reciprocidade como chave para a mudança, que Chiara Lubich já havia recordado em 1997 no contexto de um seminário na sede da ONU em Nova York, foi determinante: “A reciprocidade” – concluiu ela – “é um objetivo que pode nos aproximar, fazer crescer, que pode se tornar realidade quando damos o primeiro passo em direção ao outro, seja e quaisquer que sejam as suas convicções, para entender os motivos, buscar uma conexão, estabelecer um relacionamento”.

Entre os convidados, estava Christelle Lahoud, da ONU Habitat de Nairóbi, que destacou que, na África, o continente mais jovem e que se urbaniza mais rapidamente, estamos diante de uma urgência e de uma oportunidade. “A construção da paz se fortalece quando os jovens se sentam em todas as mesas de tomada de decisão”, disse ele. “As desigualdades estão se ampliando; hoje, mais de 120 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas ao redor do mundo: é o maior número já registrado. Enchentes, calor extremo e déficits ambientais empurram as pessoas para áreas urbanas já sobrecarregadas”. Essa pressão aumenta a competição por recursos e mina a inclusão social. A mensagem é convergente: “A construção da paz não avança isolando os jovens em torno de uma mesa de jovens, mas se fortalece sobretudo se os jovens encontrarem espaço em cada mesa”. Os jovens – continuou Lahoud – “avaliam os riscos, coletam os dados, influenciam os orçamentos locais e redesenham as áreas negligenciadas, transformando-as em locais de conexão e inclusão. Por meio da governança participativa, eles trabalham ao lado de prefeitos e autoridades locais”, a fim de criar espaços urbanos seguros e inclusivos.

Mais uma vez, é uma questão de mudar a narrativa; uma escolha nada indiferente, que pode atuar como um ativo. Nessa direção, grupos de cidadãos de diferentes idades e identidades sociais também ofereceram sua experiência, vindos de cidades de vários tamanhos: Manila, Kinshasa, Medellín, Beirute, Koper, Trento, Belém e Pajule. Além de amplificar a internacionalidade do evento, eles conseguiram descrever o potencial de uma colaboração consciente entre a sociedade civil e as instituições. Dentre os inúmeros testemunhos, houve o de Agnes Aloyotoo, uma jovem candidata nas próximas eleições em Uganda, e de Jonathan Masuta, que preside uma das federações juvenis da União Africana: as novas gerações não esperam, a ação deles é presente.

Afinal, foi isso que aconteceu mil vezes quando os jovens se levantaram e tomaram a palavra. Seus ideais são a realidade do futuro. Começando pelas escolas e universidades, quantas vezes eles prepararam e moldaram mudanças, além de guiar rumos políticos.

Com tudo isso, todos partem de Nairóbi com uma nova determinação, cheios de ideias e de fatos. Não é coincidência que o título da sessão final dizia: “Como continuar: alianças, ferramentas, redes”. A sabedoria das culturas africanas nos sustenta nos caminhos que se abrem: “Se você quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vamos seguir juntos”.

Nairobi, Kenya
Nairobi, Kenya

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