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Quando a TV se preocupa com o planeta – Entrevista com Olivella Foresta

Documentarista de profissão, ela traz para a TV uma ecologia realista, próxima e cheia de esperança
Olivella Foresta é uma documentarista experiente. Ela colaborou com gigantes, como Piero Angela (Superquark) e, durante um estágio, com David Attemborough. Mas também com Vandana Shiva, ativista e ambientalista indiana, que luta para mudar as práticas na agricultura e na alimentação, especialmente contra a monocultura.
O trabalho de Olivella Foresta começou na Inglaterra, onde trabalhou por anos na TV, mas a sua longa experiência está ligada principalmente a um programa histórico da Rai (na Itália) dedicado ao meio ambiente: Geo. Aqui ela realizou muitos documentários, e o seu testemunho nos ajuda a entender que a mídia, em particular a TV, pode falar de forma construtiva sobre ecologia. Por isso nós a conhecemos e partimos de um trabalho recente e paradigmático dela, do qual ela se encarregou do texto, da edição e da direção, com Diego D’Innocenzo. É intitulado O Lago das Maravilhas e foi filmado no Lago Chilika, na Baía de Bengala, na Índia.
Olivella, do que se trata?
Muitas vezes ouvimos que a Índia produz poluição, mas há sensibilidades locais como em todos os lugares. Esse projeto existe há anos, graças ao Estado de Odessa, em uma região pobre que é o destino das aves migratórias. Aqui, a principal atividade é a pesca, mas na estação das monções é difícil pescar. Então, a caça de aves migratórias se desenvolveu. A ideia era acabar com essa atividade ilegal empregando pessoas como guardiãs do patrimônio: pescadores quando possível, guardas florestais em outros momentos. Uma reserva total não pôde ser criada, precisava deixar períodos para a pesca inteligente. Agora, visitantes de toda a Índia e do exterior estão vindo a esse parque. Quando as aves migratórias chegam, então, os cientistas também chegam.

Uma história positiva
Sobre o compromisso ecológico não em palavras, mas em gestos. Os projetos ecológicos funcionam quando estão harmonizados com outras necessidades humanas, quando a sensibilidade ao meio ambiente está ligada às necessidades das pessoas. Não se pode dizer às pessoas para não comerem mais. É o verde sustentável que se torna um círculo virtuoso sem a demonização das exigências humanas.
Esse tipo de trabalho também pertence ao Geo?
Esses elementos são fundamentais na linha editorial do Geo, que prefere a prática à teoria e não gosta de pregações, do extremo ou do utópico. Procura falar sobre como a relação com o meio ambiente pode melhorar com exemplos positivos, mas sustentáveis, com os quais os espectadores podem se identificar para tomar medidas concretas. Encaramos a sustentabilidade de hoje, para criar sensibilidade em relação ao meio ambiente. O Geo está atento à manutenção das raízes na transição geracional, ao retorno dos jovens à terra dos avós, à recuperação do território. Mais do que na velocidade e na radicalidade da mudança, pensamos no equilíbrio entre otimização e respeito.
Você pode dar alguns exemplos?
Estamos editando documentários filmados em Val Maira: um vale acima de Cuneo, onde as pessoas escolheram um programa respeitoso, sem instalações turísticas intrusivas. A lentidão foi adotada e os jovens voltaram, colocando de volta à atividade o trabalho dos pais e dos avós, com as tecnologias e a preparação modernas.
Podemos dizer que o público do Geo reflete a sociedade?
Geo fala com a criança e com o adulto. É transmitido em um determinado horário em que os avós estão cuidando dos netos e, portanto, a mensagem deve ser transmitida com simplicidade, atenção e delicadeza, porque há menores de idade e porque muitas vezes os idosos têm o território em sua bagagem cultural e em seu coração. Eles podem ter trabalhado diretamente, possuem o conhecimento adquirido mediante o contato. Você não pode falar com eles sobre a ausência humana, mas sobre a harmonia entre o homem e a natureza.
E para os jovens
Geo também fala com as novas gerações, às vezes muito preparadas: com os novos especialistas ambientais, com os novos agricultores. Fala aos professores, entre os quais temos muitos seguidores e responsabilidades, porque, por sua vez, eles têm que transmitir a mensagem. Aqui eles podem se inspirar para os projetos escolares. Por fim, há o público em geral que, no nosso caso, busca uma relação positiva com o meio ambiente.

No que vocês se concentram em particular?
Nas histórias. Quando me encarreguei de aquisições, eu recebia, especialmente do exterior, documentários genéricos sobre o tema da água ou do planeta. Não entramos nesses grandes argumentos teóricos. O grande tema está lá, mas passa pela história de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Quando um agricultor cultiva em uma região onde não há muita água, ele sabe como agir para não desperdiçá-la, caso contrário, ele não a terá para o cultivo ou para os animais beberem. Dessa forma, a necessidade de respeitar o meio ambiente é bem contada. Então, podemos associar o documentário ao cientista que, no estúdio, fala sobre a situação hidrográfica.
Podemos defini-la de ecologia encarnada?
Eu diria que sim, e o mérito também é da apresentadora Sveva Sagramola que, com sua extraordinária capacidade, ao mesmo tempo humilde, fala sobre o meio ambiente. Passei um mês com ela na África, em 2009, para nove documentários cheios de atenção e respeito pelas pessoas apresentadas. Estivemos com a população local e nas favelas de Nairóbi. Conhecemos pessoas como John Mureri, um jovem advogado que dedicou sua vida a proteger os mais humildes. Essa é também uma forma de falar sobre o ambiente.
Faz parte do conceito de “Ecologia Integral” do Papa Francisco.
Nunca devemos sentir que somos superiores ao meio ambiente, mas integrados e é isso que tentamos dizer por meio do Geo. Não falamos sobre a degeneração do relacionamento. Tentamos respeitar as categorias sem demonizá-las ou exaltá-las.
Entre os seus primeiros documentários para o Geo, há o de Anna Giordano. Quem é?
Uma mulher incrível que, nos anos 1990, lutou contra a caça ao urubu no Estreito de Messina. Havia uma tradição ali: quem matasse um – lá eles o chamam de Adorno – significava que não estava sendo traído. Os caçadores alugavam velhos bunkers da Segunda Guerra Mundial para matá-los. Eram apenas troféus, pois nem dava para comer. Essa mulher, com a ajuda da Guarda Florestal, comprometeu-se a ir contra essa tradição repulsiva, e encontrou vários problemas. Chegaram a queimar o carro dela. O documentário é intitulado A Dama dos Falcões.
Falar sobre meio ambiente significa denunciar o que está errado, mas também oferecer esperança para sair da crise ambiental. No Geo, como vocês se posicionam entre esses dois polos?
Nossa linha editorial é a da esperança. Abordamos a denúncia indiretamente, mas sem remover o problema. Nós o aprofundamos em parte no estúdio, com os convidados. Tentamos fazer as pessoas entenderem como as coisas podem funcionar com um documentário, que é uma janela de esperança. Se falamos do abandono dos subúrbios, mostramos também a família que está reformando uma casa. Não deixemos de fora o aspecto negativo, mas como base sobre a qual construir. Em nossa linha editorial, não há figuras políticas, porque a política muitas vezes tende a polarizar, enquanto estamos interessados em falar sobre aquilo que funciona e é útil. Existe uma bela ciclovia? Não importa se foi feita pela direita ou pela esquerda. Olhamos para a importância dessa faixa para as famílias e as pessoas. Se quisermos chamá-la de linha editorial da esperança, bem, nós temos muita esperança.
A ferida é o ponto de partida. Podemos dizer isso sobre Geo?
Não vamos falar sobre a terra dos incêndios na Campânia, mas sobre a dificuldade dos agricultores que se concentram na agricultura biológica e enfrentam o problema da fumaça prejudicial à saúde. Por exemplo, para um documentário feito em Salina, Il profumo di casa, falando sobre o trabalho no cultivo de alcaparras, cansativo e ocasional, foi abordado o tema da mão de obra de baixo custo para imigrantes.
Não fazem investigações realmente…
Não em estilo de relatório. Descrevemos questões críticas de forma construtiva, especialmente em documentários, colaborando também com realidades virtuosas. Por exemplo, a associação ambientalista italiana Legambiente. Estamos sempre atentos à realidade. Nós nunca construímos um conto de fadas. Adoramos falar sobre culturas biológicas, sobre o problema do desperdício.
Alguns outros exemplos?
Um documentário sobre a controversa presença de lobos, reintroduzido com o projeto San Francesco nos anos 1970. Existem muitos lobos, e o que fazer? Renunciar a um projeto positivo? É aconselhável ter paciência e procurar ferramentas para uma convivência saudável. O documentário conta a história da invenção de coleiras que sinalizam a presença de lobos para o pastor e para o fazendeiro. Tentamos oferecer sugestões para a convivência saudável entre as diversas realidades do planeta, se quisermos que ele mantenha a sua variedade.

Podemos dizer que com esse trabalho vocês ajudam o público a se conscientizar de que o ser humano, sem o seu planeta saudável, não pode viver?
Essa é a missão de Geo: reiterar que fazemos parte de um mecanismo. Não podemos fazer o que queremos porque o planeta está interligado e devemos assumir nossas responsabilidades. O problema dos javalis nas ruas está ligado à gestão do lixo urbano, às lixeiras transbordantes deixadas abertas. Geo sabe que o javali também é uma ameaça para o agricultor, mas pensa no equilíbrio que leva à harmonia entre o homem e o animal. Entre economia e natureza. Sem harmonia, corremos o risco de arruinar o planeta.
Voltemos à ecologia integral e a Papa Francisco
Ele era um aliado profundo, a voz mais forte e autoritária, inclusive no que diz respeito à guerra, que destrói o meio ambiente. Os danos ecológicos após uma guerra são terríveis. Pouco se fala sobre esse aspecto das guerras.
Qual é a sensação depois de tantos anos de trabalho, vendo que tantos problemas ainda estão aí?
Não é fácil responder. Se você olhar pela janela, terá dificuldade em dizer que as coisas melhoraram, mas nossa transmissão encontra muitas pessoas motivadas e determinadas. Isso me leva a dizer que a sensibilidade melhorou. No Geo, respira-se proximidade com as pessoas que dão tudo de si. Nossa tarefa é falar sobre elas. Há momentos de desânimo, perante um rio em péssimas condições, mas recuperamos as forças ao encontrar quem o limpa. Eles entenderam que o rio é casa, não lugar para jogar lixo.
Sentimentos ambivalentes
Digamos que a base é melhor do que aqueles que nos dirigem, infelizmente, que ainda estão ancorados no mecanismo do voto. Mas há muitos jovens inteligentes que alimentam a esperança.
O papel da mídia?
Acredito que hoje, também graças aos meios de comunicação, há uma nova sensibilidade, mas volto a quem nos lidera e às grandes multinacionais, à monocultura que destrói. Cultivar apenas um produto em um país é muito arriscado. Carlo Petrini, que colabora com Vandana Shiva, também afirma isso. No Geo, falamos sobre a importância de culturas diferenciadas, da alternância de culturas. Mais uma vez, não fazemos uma denúncia direta, mas deixamos claro que o deus do lucro não leva à proteção do meio ambiente.
Qual é a importância da formação para os jovens e até que ponto uma boa TV pode dar sua contribuição?
A formação é muito importante, especialmente o trabalho aprofundado com as escolas. Também acredito que depois de três horas de Geo, temos a sensação de que algo pode ser feito. É uma transmissão que incentiva: saímos do Geo melhor do que entramos.
Penso que com esse trabalho, vocês interceptam uma necessidade inerente às pessoas, talvez obscurecida pela corrente da nossa sociedade, mas resistente.
Reconstruir a harmonia com o meio ambiente intercepta nossa necessidade íntima e profunda, que é também um desejo de paz.