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Guerra e morte, natureza e vida: a fotografia do grande Sebastião Salgado

 
1 agosto 2025   |   , Comunicação,
 
Sebastião Salgado - Foto tratte dal documentario Il sale della terra distribuito da Officine UBU
Sebastião Salgado – Foto tratte dal documentario Il sale della terra distribuito da Officine UBU

Um retrato de Sebastião Salgado, o grande fotógrafo brasileiro que faleceu recentemente, em um documentário maravilhoso. “O sal da Terra”. Uma viagem às feridas e a capacidade de renascer desse extraordinário repórter, com a ajuda da natureza e de sua esposa Lélia.

A guerra destrói a alma humana. Atinge o coração até aniquilá-lo. A década de 1990 foi a das guerras em Ruanda e nos Bálcãs. Tanto derramamento de sangue e tanta violência foram contados pelas imagens de um grande fotógrafo: o brasileiro Sebastião Salgado, que faleceu em 23 de maio de 2025.

O contato direto e profundo com esse sofrimento e esse horror o levou a se anular: “Minha alma adoeceu”, diz ele no belíssimo documentário que o diretor Wim Wenders, com Juliano Ribeiro Salgado, dedicou a ele: “O sal da Terra” está de volta aos cinemas, na Itália, distribuído pela Officine UBU, após a morte do fotojornalista.

Foto tratte dal documentario Il sale della terra distribuito da Officine UBU
Foto tratte dal documentario Il sale della terra distribuito da Officine UBU

Sebastião Salgado e o horror entre África e Europa

Sebastião Salgado tinha ido à África para o projeto fotográfico “Exodus”, dedicado aos refugiados, mas a caminho de Khigali viu-se imerso em “150 km de morte”. Ele ainda recorda no documentário: “Quando fui embora, não acreditava mais em nada. Não poderia haver salvação para a espécie humana. Não é possível sobreviver a algo assim”.

Nessa tragédia, ele se perdeu. A ferocidade, a brutalidade, na África como no coração da Europa, eram generalizadas. “O que mais me causou desgosto foi ver até que ponto o ódio era contagioso”. Ele não tinha mais forças. “Quantas vezes deixei de lado a minha máquina fotográfica para chorar”, e é a voz narrativa de Wim Wenders que focaliza melhor o que aconteceu: “Sebastião tinha descido ao coração das trevas e questionado o seu papel de fotógrafo e testemunha da condição humana”.

Ajudado por sua esposa e natureza

Ainda assim, Sebastião Salgado conseguiu se recuperar. Fez isso com duas experiências, ambas ligadas à natureza, e graças a uma mulher extraordinária: sua esposa Lélia. De volta para casa, no Brasil, ela propôs a ele plantar muitas árvores novas na fazenda da família, agora devorada pela desertificação. Ela fez isso para tentar devolver ao marido, mesmo que apenas parcialmente, o esplendor de quando ele era criança.

“A ideia surgiu pelo impulso de elevar o moral da família”, enfatiza Wenders, mas o que daí decorreu foi muito mais do que isso. “Nos dez anos seguintes, aconteceu um verdadeiro milagre naquelas terras, que a partir de então passaram a se chamar ‘Instituto Terra’.”

Com o tempo, a floresta renasceu. A vida recomeçou em todas as suas formas. A água fluiu novamente através do verde das plantas. O coração do fotógrafo se reacendeu, mas ele tomou uma direção profissional diferente. Wenders continua: “Eles sabiam, ele e sua esposa, que não podiam fazer o que haviam feito antes”.

Foto tratte dal documentario Il sale della terra distribuito da Officine UBU

A estrada da beleza: Gênesis

O caminho iria ser diferente. O oposto. Não mais o da morte que destrói, que mata corpos e almas, mas o da natureza que salva: “Concluímos que eu poderia criar um novo projeto fotográfico relacionado ao meio ambiente”, lembra ele, e em uma primeira fase pensaram em “denúncia”. Depois, “em um projeto diferente”: homenagear o planeta fotografando sua beleza salvadora. Salgado partiu em viagem para Galápagos, ou melhor, para a natureza em todo o seu esplendor.

O projeto se chamaria Gênesis: uma imersão decididamente mais otimista e regeneradora no mesmo planeta que Salgado havia visto destruído pelo homem, anos antes. “Gênesis deveria ser uma carta de amor ao planeta”, explica ele em outro fragmento de “O Sal da Terra”. “A partir daí, entendi que sou parte da natureza, como uma tartaruga, uma árvore, uma pedrinha”.

Foto tratte dal documentario Il sale della terra distribuito da Officine UBU
Foto tratte dal documentario Il sale della terra distribuito da Officine UBU

Amazônia, a nova jornada de Sebastião Salgado

Na esteira dessa experiência revitalizante, anos depois, nasceu a exposição fotográfica “Amazônia”, com mais de 200 obras. Durante seis anos, Sebastião Salgado fotografou a floresta amazônica no Brasil. Não apenas seus rios, sua folhagem, suas montanhas, mas também as pessoas que vivem lá.

As imagens extraordinárias e poderosas se misturam na exposição, com os sons naturais daquela densa terra de vegetação envolvente. É possível ouvir o barulho delicado das árvores, as vozes dos animais, o canto das águas correndo rio abaixo vindas dos montes. É uma trilha sonora de imersão maravilhosa, criada por Jean-Michel Jarre, que capta todo o encanto da natureza, a pureza da casa comum, fixada nessa viagem fotográfica de Salgado.

Trata-se de uma beleza frágil conservada pelas comunidades indígenas amazônicas, capazes de conviver com ela, a mãe Terra, em harmonia e igualdade. É um exemplo para outras culturas e outros povos. É um exemplo que Salgado, antes de nos deixar, narrou com a sua fotografia inigualável, com seu poder comunicativo, pelo qual nunca deixaremos de lhe agradecer.

Foto tratte dal documentario Il sale della terra distribuito da Officine UBU
Foto tratte dal documentario Il sale della terra distribuito da Officine UBU

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