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“A EMERGENCY cuida de valores como a igualdade, a neutralidade e a excelência” – Entrevista com Michela Greco

Michela Greco é uma jornalista cinematográfica que trabalha, há algum tempo, em comunicação para a EMERGENCY. Ao longo dos anos, ela conseguiu unir a sua experiência e a sua competência na sétima arte com seu engajamento na grande organização fundada por Gino Strada, em 1994. Nós nos encontramos com ela para falar sobre o cuidado com os mais frágeis, os direitos humanos, a cultura da paz e um pouco de cinema.
Michela, como sua carreira profissional se desenvolveu?
Em 2001, comecei a participar de atividades de voluntariado para a EMERGENCY: ajudei a narrar, nas praças, aquilo que a associação fazia. Estive envolvida na arrecadação de fundos e na organização de eventos. Nesse ínterim, tornei-me jornalista de cinema e, com o tempo, consegui agregar as duas atividades, graças também aos contatos com alguns atores e diretores de cinema. Muitos deles mostraram grande sensibilidade em relação às questões da EMERGENCY e eu os envolvi em alguns eventos.
Por quanto tempo você seguiu os dois caminhos?
Em parte, é assim ainda hoje. Há dois anos e meio tornei-me funcionária da EMERGENCY, depois de ter sido colaboradora. Em compatibilidade com o compromisso em tempo integral com a organização, de vez em quando consigo arranjar tempo para escrever sobre cinema. Hoje faço parte do departamento de comunicação da EMERGENCY, mas desde o tempo da colaboração tenho conseguido conciliar cada vez mais a minha atividade como repórter de cinema com projetos para a associação.
Alguns exemplos?
Em 2018, realizamos dez documentários com a EMERGENCY, sobre outros diversos projetos do seu “Programa Itália”, dedicados às clínicas, presentes de Norte a Sul do país, que garantem o direito ao tratamento para todas e todos. Ao participar da realização desses documentários, tive a oportunidade de entrevistar nossos operadores humanitários e os beneficiários dos projetos, e assim pude aprofundar meu olhar sobre essas realidades, a fim de contá-las da melhor maneira possível.
Desse projeto, nasceram outros?
Naquele período, também nasceu “Uma storia per EMERGENCY” (“Uma história para EMERGENCY”): um concurso para roteiristas de curtas-metragens reservado aos jovens. Estamos agora na quinta edição, dedicada às mulheres de 18 a 30 anos e focada no tema do repúdio à guerra.
É um outro encontro entre cinema e EMERGENCY.
Muito mais do que isso, porque em cada edição tivemos a colaboração com a Rai Cinema e com algumas das mais importantes produtoras cinematográficas nacionais: no primeiro ano, com Wildside, depois com Groenlandia, Indigo Film, Fabula Pictures e, este ano, Giffoni Innovation Hub com Mosaicon. A resposta do cinema tem sido muito forte: essas realidades quiseram trabalhar conosco para estimular, na geração mais jovem, a criação de histórias sobre os temas que são mais preciosos para EMERGENCY: a rejeição da guerra, a promoção de uma cultura de paz, hospitalidade, migração, solidariedade. Estamos muito satisfeitos com os curtas-metragens, alguns dos quais, justamente por conta do acordo com a Rai Cinema, já estão disponíveis em Rai Play.
Como Ape Regina de Nicola Sorcinelli, Battima de Federico Demmattè, Captain Didier de Margherita Ferri. Quão útil é o cinema para apoiar aqueles que mais precisam e conscientizar sobre o cuidado dos mais frágeis?
Acreditamos muito nesses projetos. “Uma história para EMERGENCY” nos permite aproximar muitos jovens dos nossoss temas mais importantes e nos ajuda a entender como eles pensam. Também estamos interessados em que eles tomem a palavra para contar o que está acontecendo. Informando, investigando, aprofundando, com a oportunidade dos curta-metragens, realidades das quais, de outra forma, não se tornariam facilmente conscientes.
Por que vocês trabalham em lugares nos quais é menos fácil encontrar a EMERGENCY?
Quando falamos de EMERGENCY, logo vêm à nossa mente o Afeganistão ou o Sudão: países distantes nos quais trabalhamos, mas com menos frequência pensamos no quanto há um problema de acesso aos cuidados na Itália, talvez ao lado da nossa casa. Também trabalhamos aqui.

Também com o cinema, justamente…
É uma ferramenta para ir em profundidade nas coisas: o cinema faz com que você se identifique com as histórias mais do que com uma notícia no telejornal.
Entre os autores dos curtas-metragens mencionados acima está Margherita Ferri, que recentemente dirigiu um importante filme sobre bullying: O menino de calças rosa, que também revisamos em United World Project em um aprofundamento sobre o assunto. Que relação isso cria entre vocês e esses jovens autores?
Estamos felizes, com esse projeto, em apoiar roteiristas e diretores iniciantes, dando-lhes a oportunidade de serem apreciados por importantes produtoras e, quem sabe, de emergir. Alguns já conseguiram isso. Além de Margherita Ferri e Nicola Sorcinelli, penso no roteirista Alessandro Padovani, vencedor da primeira edição (justamente com Abelha Rainha) e do prêmio Solinas.
O cinema apoia a EMERGENCY e a EMERGENCY enobrece o cinema. Podemos dizer isso?
Digamos que o cinema é uma linguagem importante para EMERGENCY, que anda de mãos dadas com as outras linguagens utilizadas para sua comunicação. Até as novas, da atualidade. Há vários anos, por exemplo, usamos a realidade virtual: com o visualizador 3D de 360 graus, podemos mergulhar em nossas atividades. Podemos “embarcar” na nossa nave de busca e salvamento no Mediterrâneo: a Life Support. É como estar a bordo enquanto ocorre o resgate dos migrantes.
O cinema contribui com suas especificidades…
Acredito que dessa forma podemos aproveitar ao máximo a especificidade da linguagem cinematográfica. Nos curta-metragens os nossos temas-chave são explorados mediante a luz, as cores, a música, o som, com um tipo de história que evoca, em vez de explicar, com a construção de atmosferas diferentes das da televisão, da publicidade, normalmente mais explícitas.
Quão importante é para a EMERGENCY estar lá? O que essa realidade extraordinária, que existe desde 1994, nos ensina?
Basta dizer que nesses 31 anos cuidou de 13 milhões de pessoas. A EMERGENCY cuida utilizando-se dos valores da igualdade, da neutralidade e da excelência: qualquer pessoa deve poder ter acesso ao melhor atendimento possível. Ao mesmo tempo, a EMERGENCY leva adiante o valor do testemunho: conta o que acontece em certos lugares enquanto tenta garantir os direitos. Garantir direitos é o único antídoto possível para a guerra, que nunca é uma solução, porque cancela tudo. A EMERGENCY sabe disso, porque conhece bem a guerra, há 31 anos, tendo cuidado das vítimas.
Qual a importância de formar as crianças para a cultura da paz?
É fundamental. Sempre e ainda mais neste momento dramático. É por isso que a EMERGENCY realiza muitas atividades com as escolas. No início de abril, foi organizado um evento, intitulado “Ho detto R1PUD1A!” 9”Eu disse REPUDIE”, com 25 mil alunos e professores do ensino médio conectados de toda a Itália com a “Casa Emergency”, em Milão, para falar sobre o que significa guerra e quais podem ser as ferramentas e ideias para se mobilizar. Além disso, em EMERGENCY há o Yep (Young Emergence People), que oferece cursos de ativação e aprofundamento para a Geração Z.
Que emoções suscita trabalhar para a construção de valores tão nobres e para o bem da comunidade humana?
Tenho a sorte de trabalhar por algo em que acredito muito. Trabalhar concretamente, para mudar as coisas, para garantir direitos.
Qual é a maior lição que Gino Strada nos deixa?
Tive a sorte e o privilégio de encontrá-lo em muitas ocasiões, de ter compartilhado parte da minha jornada com a pessoa capaz de criar (não sozinha) EMERGENCY. Gino Strada era um visionário, mas ao mesmo tempo um homem muito concreto: falava de coisas que conhecia em profundidade, porque tinha colocado as mãos na massa. Estou pensando, em primeiro lugar, no Afeganistão, um dos países onde a EMERGENCY está presente há mais tempo.