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#PlanetPledge | Belfast: o Repair Café

 
14 dezembro 2021   |   , ,
 

Uma história de esperança, de relacionamentos e de mangas arregaçadas para “consertar” o que está estragado, juntos.

Estamos em Belfast, capital da Irlanda do Norte.

Há cerca de quatro anos, esta bela cidade acolhe uma iniciativa que podemos definir como ecológica e social e que se realiza da mesma forma também em outras partes do mundo. Estamos falando do Repair Café (Café Reparador).

Quem nos explica do que se trata e quais são seus efeitos é Chris McCartney, que o fundou em Belfast: “Eu havia feito uma pausa no meu trabalho – ele nos conta – porque tinha o desejo de fazer algo pela minha comunidade local. Tendo trabalhado com questões globais por muito tempo, eu me sentia distante das coisas com as quais estava comprometido e queria fazer algo que pudesse realmente tocar, sentir e ver. Então, lancei uma mensagem nas redes sociais perguntando se alguém já tinha ouvido falar dessa ideia do Repair Café para criarmos um juntos aqui na Irlanda do Norte.”

Mas o que é um Repair Café?

Literalmente “cafeteria para os reparos”, o Repair Café é um evento que ocorre de forma assídua, durante o qual “alguns voluntários se colocam à disposição das pessoas que trazem seus objetos quebrados para consertá-los – explica Chris – e nesse ínterim passam uma bela manhã juntos. O tipo de coisas que as pessoas trazem geralmente são bicicletas, telefones, laptops, utensílios domésticos, máquinas de costura, de jardinagem, coisas assim. O Repair Café, portanto, cria um espaço no qual é possível compartilhar as próprias habilidades e colocá-las a serviço da comunidade, e isso é muito mais do que consertar objetos. Há uma atmosfera muito especial quando nos reunimos para resolver problemas, para ajudarmos uns aos outros, é edificante. E as pessoas ficam fascinadas, por isso nosso grupo cresce e se fortalece cada vez mais!”

O Repair Café, na verdade, é uma verdadeira experiência, tanto para os voluntários que fazem os consertos, como também para as pessoas que decidem investir o seu tempo para trazer um objeto a ser consertado, em vez de o jogar fora. Os motivos por trás desta escolha, conta-nos Chris, podem ser os mais diversos, desde a preocupação com as alterações climáticas ao desejo de ver um objeto de que gosta voltar a funcionar.

Como no caso de um casal de avós, que pela primeira vez cruzou a soleira do Repair Café com muita ressalva e hesitação quanto à real possibilidade de pôr em funcionamento uma velha pista para carrinhos que pertenceu a seus filhos e que queriam dar de presente aos netos. “Nós apresentamos a eles algumas das pessoas que trabalham nos consertos – diz ele –, que foram muito receptivos e encorajadores. Durante cerca de uma hora, vimos que eles trabalhavam em equipe, porque quem traz o objeto a ser consertado é parte integrante do processo de reparo. E enquanto trabalhavam, começaram a contar a história da pista dos carrinhos e o que ela significava para eles. Um casal que chegou com muitas reservas saiu abraçando os técnicos da manutenção, pessoas que nunca haviam conhecido antes na vida, mas no decorrer desse propósito comum e desse projeto em que trabalharam juntos encontraram um vínculo real.”

Essa percepção de ser uma equipe e de compartilhar algo torna também a abordagem dos grandes problemas do mundo mais positiva e propositiva. Permite que nos sintamos menos esmagados e desamparados precisamente porque nasce a confiança de que podemos melhorar juntos o próprio metro quadrado, para passar para o seguinte e depois para mais outro.

O próprio metro quadrado também pode começar com uma simples torradeira: “Um dia chegou um senhor ao Repair Café trazendo uma torradeira. Ele a tinha tentado consertar sozinho, havia desmontado e não foi capaz nem de consertar nem de juntar as peças novamente. Nossos técnicos começaram a trabalhar imediatamente e, a certa altura, um deles disse que seria bom ter um pedaço de pão para ver se funcionava. Um voluntário ouviu essa frase e correu para pegar uma fatia que tinha sobrado do almoço que havíamos preparado. Assim todos nós nos sentamos em volta da torradeira para observar o que iria acontecer; conforme os segundos passavam estávamos emocionados e, depois de um minuto, o pão saltou, totalmente torrado e tostado! Os aplausos eclodiram, a alegria foi imensa. Eu creio que é um tipo de sensação que as pessoas estão procurando neste período, porque ao sentir os problemas do mundo tudo pode parecer muito opressor, você não sabe por onde começar ou o que pode fazer, e aqui está algo imediato, prático e tangível, em que dá para ver a diferença.”

A alma do Repair Café é antes de tudo, embora não exclusivamente, uma alma verde, que busca difundir boas práticas de respeito ao meio ambiente, por meio de pequenas escolhas na vida cotidiana. Em particular, o conceito subjacente diz respeito precisamente à economia circular, segundo a qual procuramos reduzir ao mínimo os desperdícios, também mantendo os objetos em funcionamento durante o maior tempo possível ou, em todo o caso, durante toda a vida útil efetiva.

A respeito disso, Chris nos explica que “tem havido muita publicidade sobre reciclagem e conservação, mas uma coisa que talvez não tenhamos explorado totalmente é a oportunidade de reutilizar os recursos e reparar o que já temos. Porque toda vez que consertamos algo evitamos todo aquele processo de extração de recursos que serviria para fazer algo novo a fim de substituí-lo, bem como todo o transporte, a energia, as emissões de carbono. Portanto, há um enorme potencial em reparar objetos. E quando você faz algo como o Repair Café, está ajudando outras pessoas a fazerem o mesmo. Não é apenas uma boa prática que você está efetuando individualmente, mas na verdade está realizando uma reação em cadeia, envolvendo pessoas que podem não ter as habilidades para consertar as próprias coisas com autonomia”.

Além disso, essa abordagem também é uma resposta verdadeiramente positiva àquela visão de futuro segundo a qual, para enfrentar a emergência climática, precisaremos abrir mão de muitas coisas no futuro, como pegar um avião e viajar para sair de férias, para mencionar uma delas.

Chris nos diz que “na verdade, com o Repair Café, percebe-se que ainda podemos ter as coisas de que gostamos, porque podemos fazê-las funcionar, podemos consertá-las. E podemos fazer tudo isso construindo uma comunidade de pessoas que se ajudam uns aos outros a fim de resolver esses problemas. Eu mesmo não era um suposto técnico de manutenção – diz ele –, mas dedicar algum tempo a este projeto mudou completamente a minha mentalidade e hoje posso fazer mais reparos sozinho. Acredito que seja um estilo de vida e, quanto mais você o leva adiante, mais você se sente encorajado e apoiado, e fica mais fácil. Percebi – continua – que o que pensávamos que fosse um projeto que visava consertar coisas e contribuir para o combate às mudanças climáticas, na verdade diz respeito, antes de mais nada, aos relacionamentos, à comunidade e à união das pessoas”.

Este senso de comunidade, aliás, é um dos efeitos mais importantes que o Repair Café trouxe a Belfast, por meio de uma densa conexão de participantes que ficaram fascinados com o projeto ou que, depois de terem trazido um objeto para ser consertado, transformaram-se em técnicos de manutenção e muito mais do que isso. De fato, Chris explica que “há muitas outras maneiras pelas quais as pessoas podem contribuir e fazer com que o Repair Café funcione. É preciso muita organização, por exemplo, na recepção, onde os objetos são verificados, há o controle do que está errado, para depois entregar ao técnico mais adequado. Outros não têm tempo para participar ativamente, mas trazem comida caseira para compartilhar com os que chegam. Em outras palavras, cresceu uma comunidade em torno desse projeto, que não é só a comunidade do Repair Café – diz ele –, mas faz parte do tecido da cidade, conectada a muitas outras comunidades que estão no local que nos hospeda. De fato, uma coisa que gostamos de fazer é nos transferir para diversas partes da cidade e para lugares diferentes. Em vez de ficar no mesmo lugar e ver as mesmas pessoas repetidamente, queremos espalhar a ideia, a alegria e a oportunidade de participar”.

Se essa alegria contagiante também envolveu vocês que estão lendo, a ponto de quererem se colocar nesse jogo pessoalmente, Chris se despediu de nós com algumas dicas para abrir um Repair Café em nossas cidades, pois de forma alguma é uma tarefa impossível!

“Existem Repair Café no mundo todo – diz ele – e existe uma organização que produz um pacote que ajuda as pessoas a começarem, que pode ser encontrado neste link: https://repaircafe.org/en/. Nós não tínhamos experiência nenhuma, não tínhamos orientações, nenhum financiamento e criamos algo que se tornou uma verdadeira referência na nossa cidade, por isso é possível. Estamos trabalhando com outras comunidades pela Irlanda do Norte para abrir outros; vimos que funciona em pequenos vilarejos, funciona no campo, funciona nas grandes cidades! O que mais preocupa quem quer começar é encontrar pessoas com aptidões práticas para os consertos, mas verifica-se que estão ali nas nossas comunidades, estão ali, mas não são visíveis. Talvez estejam escondidos por causa do emprego, ou sejam aposentados, ou sejam pessoas que consertam suas coisas em casa por hobby. Essas habilidades estão presentes em nossas comunidades, e se você simplesmente criar o espaço para que se reúnam, será capaz de criar um projeto maravilhoso que oferece às pessoas uma maneira verdadeiramente prática de construir comunidades, para responder às preocupações sobre a emergência climática e para um estilo de vida mais sustentável. Aqui está algo tangível que você pode fazer, que será divertido e edificante. Sim… eu encorajo você a tentar!”.

Então, coragem a todos nós, que graças a histórias como estas podemos encontrar a determinação de arregaçar as mangas e começar a partir do nosso cantinho, a partir da nossa casa a fazer escolhas sustentáveis ​​e construtivas, em relação ao meio ambiente, em relação às comunidades, para o nosso futuro nesta Terra na qual estamos juntos e que juntos devemos reerguer.


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